REALIZAÇÕES E DESENVOLVIMENTO
Em meados de 2003, ainda sob efeito da efervescência cultural vivida na Bienal de Arte e Cultura da UNE, o grupo resolveu dar um nome ao movimento cultural que estavam vivenciando e construindo, denominado-se a partir de então Brincantes Cordão do Caroá.
Em agosto de 2003, as atividades dos Brincantes Cordão do Caroá foram legitimadas junto a Universidade Federal do Ceará, através do cadastramento na Pró-Reitoria de Extensão como Programa de Extensão Brincantes Cordão do Caroá, um programa de ação integrada, de período indeterminado, de atuação urbana e rural, sob a responsabilidade da Coordenadoria de Integração Universidade Movimentos Sociais – CIUMs.
Com o apoio administrativo e logístico da universidade, através de bolsas de extensão para alguns integrantes do grupo e convênios para captação de recursos financeiros, o grupo Brincantes Cordão do Caroá conseguiu fortalecer o seu movimento em prol das manifestações artísticas populares, através da organização do I Seminário de Arte e Educação, realizado na FACED/UFC, em agosto de 2003. Com o tema Redescobrindo a Cultura Popular Cearense, o seminário objetivava capacitar, através de grupos de discussão, palestras e oficinas, os alunos da universidade e pessoas da comunidade interessados em conhecer o universo da cultura popular.
A partir do final do ano de 2003, o grupo decidiu dar maior ênfase ao que chamou de Expedições Culturais. Com o apoio da UFC e das Secretarias de Cultura das localidades que seriam visitadas, o grupo iniciou uma série de viagens, a diferentes regiões do Nordeste, alugando um ônibus e organizando hospedagem e alimentação para que um número estudantes permanecesse algum tempo em contato com os folguedos populares e seus mestres, absorvendo todo tipo de informação relacionada à cultura local. Em novembro de 2003, o grupo visitou o município de Arcoverde, em Pernambuco quando teve contato com o reisado do povoado de Caraíbas, e com o Coco Raízes de Arcoverde tendo participado de vivências percussivas com Cacau Arco Verde, que era percussionista da primeira formação da banda Cordel do Fogo Encantando. Na mesma expedição, passaram por Recife/PE onde visitaram Dona Selma do Coco e participaram do ensaio da percussão do maracatu Estrela Brilhante com o Mestre Walter, no Alto do Zé do Pina, vivenciando o ambiente cotidiano da sede do maracatu, conversando com costureiras, rainha, rei, embaixadores e com os ritmistas da ala do batuque. O grupo retornou eufórico à Fortaleza e alguns integrantes seguiram imediatamente em outra Expedição Cultural, em dezembro de 2003.
Em Fortaleza/CE, os integrantes dos Brincantes Cordão do Caroá, continuavam a manter fortes ligações como movimento estudantil e com o Centro Acadêmico Paulo Freire do curso de Pedagogia da FACED/UFC. Com o objetivo de propor uma política cultural para a entidade, tiveram a iniciativa de ampliar o olhar sobre as práticas culturais dentro do ambiente acadêmico, realizando na segunda semana de janeiro de 2004, o I Espaço de Arte e Educação na Faculdade de Educação/UFC, com o tema Um Mergulho na Cultura Popular. O impresso promocional do evento destacava a importância para o resgate de memória cultural através de palestras, debates, oficinas e vivências sobre arte e cultura.
As atividades do Cordão tiveram ampla repercussão na comunidade de
Fortaleza/CE e ao longo do ano de 2004 o grupo recebeu vários convites para apresentações. Além das apresentações em eventos da UFC, o grupo participou da 1° Etapa do Circuito Ceará de Cultura promovido pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Convidados pela direção do Theatro José de Alencar, o pessoal do Cordão participou do projeto Theatro de Portas Abertas e em seguida criou o espetáculo Entremeios, Embaixadas e Cortejos, cujo os textos, de autoria dos membros do grupo, e poemas de domínio público eram entrecortados por danças e músicas dos reisados de caretas e de congo, da região do Cariri/CE. Em julho de 2004, o pessoal do Cordão organizou e produziu o II Seminário de Arte Educação com o tema: Redescobrindo a Cultura Popular. O enfoque principal do encontro foi continuar enfatizando uma prática reflexiva da arte em espaços educacionais tornando-os comprometidos com um olhar constante sobre a cultura popular além de “construir um circuito alternativo bienal e educacional que fortalecesse a formação de Arte e Educadores”.
As constantes visitas, ao longo de 2004, aos mestres e aos reisados do Juazeiro do Norte/CE acabaram por conduzir o Cordão a uma opção definitiva pela brincadeira do reisado. “Em 2004 é quando a gente se assume mesmo no reisado. Não, nós somos o que somos. Nós somos isso, nós não somos um grupo que vai gravar cd”. O contato com os mestres do Cariri/CE se intensifica e o grupo faz um mergulho profundo na cultura popular dos reisados de congo.
No final do ano de 2004, no período de festas do Natal, o grupo Brincantes Cordão do Caroá firmou como evento permanente no seu calendário de apresentações, cortejos que aconteciam pelas ruas do Bairro do Benfica, em Fortaleza/CE que se denominou Ciclo Natalino. Os cortejos seguiam de casa em casa anunciando votos de amor, paz e solidariedade. O objetivo principal era “propiciar à comunidade e aos moradores do Benfica vivências culturais próprias do povo cearense”. Até o momento da realização deste trabalho, a programação do Ciclo Natalino manteve-se anualmente, com o seguinte cronograma:
01 de dezembro – Abertura de Portas – O Reisado abre o altar de sua sede dando início aos festejos do Ciclo Natalino.
24 de dezembro – Marcha de Anunciação – Neste dia o Reisado marcha a procura da estrela do oriente, que anuncia o nascimento do menino Jesus. O Cordão sai de sua sede e segue em cortejo pelas ruas do Benfica cantando e louvando a chegada do Messias.
26 de dezembro – Marcha de Celebração – O menino Jesus nasceu! Louvando ao sagrado coração do menino Deus, o Reisado comemora seu nascimento saindo de sua sede e seguindo em cortejo pelo Benfica.
06 de Janeiro – Dia de Reis – Comemoração do Dia de Reis e encerramento do Ciclo Natalino. Na Reitoria da UFC, o Reisado do Cordão, brinca autos tradicionais, recolhe prendas e canta peças numa festa de muitas cores, luz e bênçãos saudando o ano que se inicia. Após a apresentação o Reisado segue em cortejo pelas ruas do Benfica.
As atividades do Grupo de Reisado Brincantes Cordão do Caroá continuavam a crescer e vários convites surgiram ao longo do ano de 2005, solicitando apresentações do grupo em abertura de eventos ou representando o Ceará em encontros de cultura popular no Estado e no Brasil. Naquele ano, tiveram repercussão as apresentações no 2° Festival Vida & Arte, promovido pelo Jornal O Povo; encenação da Paixão de Cristo na Praça do Município de Euzébio/CE; 15° Cine Ceará – Festival Cine Ceará, apresentando-se na Praça do Ferreira em Fortaleza/CE; Festa de Santo Antônio, no Município de Quixeramobim/CE; VII Mostra Cariri das Artes; 12° Festival Nordestino de Teatro da cidade de Guaramiranga/CE; Bienal Percussiva e II Encontro de Percussão no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza/CE; II Semana da Cultura Tradicional Popular do Theatro José de Alencar juntamente com o reisado Discípulos de Mestre Pedro, de Juazeiro do Norte/CE; 15° Caminhada Axé na cidade de Salvador/BA e na abertura da 4° Bienal de Arte e Cultura da UNE, em São Paulo/SP, quando o grupo teve seu trabalho destacado em rede nacional de televisão. Em junho de 2005, através do projeto de Revitalização da Praia de Iracema, o grupo Brincantes Cordão do Caroá, organizou uma parceria com a Fundação Pirata Marinheiros para realizar apresentações semanais do reisado na programação da Quinta Cultural do Bar Pirata. O trabalho, apresentado para turistas, rendia a cada Brincante a quantia de trinta reais e o grupo permaneceu fazendo parte da programação do bar até o final do ano, quando finalizou o projeto.
Em fevereiro de 2006 o grupo Brincantes Cordão do Caroá iniciou o projeto Grupo de Difusão das Práticas e Saberes dos Brincantes da Cultura Popular Tradicional da Universidade Federal do Ceará, buscando valorizar e multiplicar os saberes e tradições da cultura popular, dando ênfase às manifestações culturais cearenses.
No mês de outubro de 2006, o grupo do Cordão organizou mais uma edição do Seminário de Arte e Educação com o tema “Interculturalidade e Tradição Oral Dentro da Escola”. O foco principal dessa terceira edição do evento foi a discussão sobre possibilidades de inserção do ensino de arte nas escolas, através da construção de uma rede de artistas e educadores, voltados para práticas que envolvessem saberes e tradições das manifestações culturais populares.
No final do ano de 2006 participaram da I Mostra Nacional de Saúde Indígena, em Brasília/DF, realizando apresentações do reisado e trocando experiências com diversas etnias indígenas. Do contato com os índios, conheceram uma grande variedade de instrumentos percussivos, diversos tipos de tambores e aprenderam vocalizações e urros que foram incorporados às apresentações do reisado.
No início de 2007 houve uma iniciativa por parte do Cordão de criar um grupo de reisado infanto-juvenil com alunos das escolas públicas do bairro do Benfica, em Fortaleza/CE. A ação ficou conhecida como Projeto Benfica e tinha como objetivo formar grupos culturais infanto-juvenis através de oficinas de difusão da cultura popular tradicional cearense e suas linguagens, também valorizando os saberes culturais da comunidade, suas memórias.
Em setembro de 2008, uma quarta e última edição do Seminário de Arte e Educação aconteceria, com o tema “Círculos de Cultura Paulo Freire”. O evento configurar-se-ia como um momento de consagração para o grupo do Cordão junto à comunidade universitária pela magnitude de sua programação e pela presença de pesquisadores importantes no campo da cultura popular, além de ter a participação de 10 grupos tradicionais de manifestações culturais populares do Ceará e de outros estados.
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